O  FACHO

 

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O FACHO
Boletim Paroquial
(1963-1969)

 

 

Inicialmente criado sob a responsabilidade das Igrejas Paroquiais da Benfeita e da Cerdeira, este jornal mensal entrou em circulação em Janeiro de 1963, por iniciativa do Rev.Padre Joaquim da Costa Loureiro, de 49 anos de idade, tendo sido alargado à Paróquia da Teixeira, a partir de Janeiro de 1966.

Como tantos outros Boletins Paroquiais da época, este, era uma publicação modesta, com ambições limitadas e especialmente dirigido aos ausentes do País que, ou em busca de melhores condições de vida ou em cumprimento do serviço militar, no Ultramar, tinham neste jornal um elo de ligação ao seu torrão natal que os ajudava a suavizar a saudade e a encurtar a distância da família e dos amigos.

Este jornal incluía, além de outros, alguns artigos com carácter fixo, como "O Zeferino e o Lucas", 2 compadres que discutiam o Bem e o Mal em virtuosas lições sobre Religião e Moral, "O Zé da Horta" que abordava a temática agrícola, transmitindo ensinamentos sobre como cuidar da terra e informando o que plantar, quando cavar, adubar, podar, colher, semear, etc. e incluía um "Noticiário" com breves notas sobre o que acontecia socialmente nas diversas povoações da região: quem se casava, nascia, baptizava e morria, quem fazia anos, quem ia ou vinha de férias, etc. e, ainda informava, o nome de quem ia à inspecção militar, de quem ficava livre ou era apurado, quem era promovido, quem morria e quem regressava do Ultramar.
Incluía, também, com alguma regularidade, informações sobre a "Vida Escolar" nas escolas primárias da região (Monte Frio, Benfeita, Pardieiros, Cerdeira e Teixeira): quem leccionava, quem ia a exame e quem era aprovado, não esquecendo os jovens ausentes na capital, que passavam de ano, concluíam os seus estudos ou se licenciavam.
Periodicamente apresentava o "Calendário das Festas Religiosas" da região, incluindo o nome dos respectivos mordomos e o "Correio dos Ausentes", com breves notícias sobre os que se encontravam longe e não esqueciam a sua terra.
Noutras secções deste pequeno boletim regional podíamos ainda encontrar: "Humorismo", com piadas, anedotas e adivinhas, e "Cultura", com pensamentos e provérbios, receitas e conselhos de culinária, curiosidades, poesia e concursos de quadras populares.

«O Facho» publicou, em 24 suplementos, um livro de 190 páginas, da autoria do ilustre benfeitense e advogado Dr. Mário Mathias, intitulado "BENFEITA", que incluía artigos, crónicas, estudos e notas de carácter histórico-monográfico, sobre a região. Obra imperecível, de extraordinária importância regional pela fidelidade descritiva e de considerável valor estimativo.

De características marcadamente cristãs, «O Facho» foi transmitindo aos seus devotos e fervorosos leitores, ao longo dos seus 7 anos de existência, conhecimentos e ensinamentos em tudo fiéis à Voz da Santa Igreja Católica, alheando-se de políticas e contendas, e constituindo um indispensável veículo de cultura e recreio. Um mestre útil, um amigo fiel e sereno.

A enorme sobrecarga técnica e administrativa resultante da elaboração e coordenação deste jornal, mesmo de reduzido formato, já não permitia ao pároco Joaquim da Costa Loureiro uma tranquila convivência com o exercício do seu múnus sacerdotal, razão pela qual a sua publicação cessou inesperadamente em Maio-Junho/1969, (Ano VII - Nº 77-78 / último boletim), para desgosto dos seus inúmeros e fiéis leitores espalhados pelo mundo.

Vivaldo Quaresma

 


 

Fonte: O Facho
Publicação: Ano I - Nº 1
Data: Janeiro 1963
Autor: Padre Joaquim da Costa Loureiro

 

 

Carta aos ausentes

 

 

É com os olhos, primariamente em vós, queridos amigos, que se faz este jornal. Todos sentimos a saudade com que deixastes a vossa terra, o vosso ninho, os vossos bens. A necessidade de melhorardes o vosso viver impeliu-vos para longe onde vos entregais a trabalhos árduos, no meio de dificuldades e perigos sem conta, para um dia regressardes com um sorriso de triunfo.

Aqui vai a mensagem de quem, por dever de ofício e levado pelo imperioso dever da caridade, nunca vos esquece apesar de a muitos não conhecer. Com ela vai o carinho, a saudade e a gratidão daqueles que alguma coisa esperam receber do vosso trabalho.

Aceitai de boamente esta mensagem e mandai de quando em vez alguma notícia do vosso viver. Aqui se estampará para alegria vossa e dos vossos familiares de quem este jornal vos levará notícias também.

Este jornal segue sob a responsabilidade da vossa igreja paroquial. Não consintais que, no fim do ano, ela fique com dívidas por esta mensagem que vos leva.

Creio que será para vós motivo de alegria ter notícias da terra todos os meses, por este meio, mas se porventura não desejardes recebê-lo peço-vos a caridade de o devolver na volta do correio para evitar despesas inúteis de futuro. Mas nenhum de vós dirá que não.

Fazei dele propaganda. Mandai-nos as direcções ou moradas dos vossos amigos, vizinhos e conterrâneos que não o recebam. Que nem um só deixe de o assinar.

Coleccionai-o. Para vós, e sobretudo para os vossos filhos, será, mais tarde, de incalculável valor como repositório da vida da vossa terra, da sua história, dos seus problemas e das vicissitudes da sua gente.

Com desejos sinceros do vosso melhor bem e votos de um Novo Ano cheio de venturas me subscrevo com a maior estima.

Benfeita, Janeiro de 1963

o Pároco

P.Joaquim da Costa Loureiro

 


 

Fonte: O Facho
Publicação: Ano II - Nº 21
Data: Setembro 1964

 

 

O Zé da Horta

 

 

Cá volta o Zé com os seus conselhos sobre hortas, terras, jardins, etc. Ele sabe com quanta avidez os seus bons amiguinhos o lêem e isso lhe basta para compensação. Certo é que a sua maior preocupação é ensinar a cuidar das terrinhas e dos seus frutos, mas não é insensível a tanto carinho e consideração de que se vê rodeado pelos seus admiradores. A todos um bem haja muito sincero.

O Verão tem sido muito seco. É provável que o Inverno venha a ser rigoroso. Colhei o milho e demais cereais e começai as vindimas. Não esqueçam os conselhos que vos dei o ano passado. Preparem bem o vasilhame se querem ter boa pinga, porque deitar vinho bom em pipas estragadas é o mesmo que pôr vinho estragado em pipas boas: zurrapa.

Semeiem, ainda, alfobres de horto e couve de nabo. Se virem jeito de chuva, semeiem uns nabitos.

Continuem as lavouras de alqueive para as terras ficarem abertas às chuvas e à geada, Assim se tornam mais produtivas.

Lá para o fim do mês, semeiem pastos: trevo e tremoço bravo, que é um óptimo adubo para as terras.

Também se começa a sementeira do trigo nas terras altas e não se esqueçam de recolher o milho quando estiver bem seco, para não aquecer na arca.

As meninas semeiem em viveiro ou em lugar próprio as plantas que hão-de florir na Primavera próxima: amores perfeitos, assembleias, bocas de lobo, centáureas, gipsófila, goivos, cravos e cravinas, etc.

Provérbios de Setembro:

  • Para vindimar deixa Setembro acabar.

  • Guarda prado, criarás gado.

  • Em tempo de figos não há amigos.

  • Vende em casa e compra na feira se queres sair da lazeira.

  • A barriga manda a perna.

  • A mesa é que faz os bons amigos.

  • A goela tem morto mais gente do que a espada.

Fases da Lua:

Nova a 6, Crescente a 13, Cheia em 21 e Minguante em 28.

Porque pensa fazer a vindima descansado, o Zé despede-se dos seus amigos até Novembro, desejando a todos boas colheitas.

Zé da Horta

 


 

Fonte: O Facho
Publicação: Ano V - Nº 49
Data: Janeiro 1967
Auto: Pároco Joaquim da Costa Loureiro

 

 

1963 - 1966

 

 

O «FACHO», este pequenino jornal que todos os meses entra, humildemente, nos vossos lares, situados nas encostas das nossas serras e nas várzeas férteis das ribeiras de águas cristalinas, que vossos pais e avós, ou vós mesmo construíram, ou nas casas onde residis, espalhadas pelos quatro cantos do nosso Portugal tão lindo, ou do Mundo que os Portugueses de antanho descobriram, ao desvendar os mares ignorados e aterradores com as quilhas das caravelas da Cruz de Cristo, completa com este número o seu QUARTO ANIVERSÁRIO, entrando assim, com a graça de Deus, e a generosa dedicação dos seus assinantes, leitores e amigos, no quinto ano da sua existência.

QUATRO ANOS?!

E se quatro anos é curtíssimo espaço de tempo na vida de uma criança, que saberá, quando muito, balbuciar, e cuida apenas de crescer e brincar; é, na verdade, um caminho extenso e trabalhoso, por vezes cheio de espinhos e bem árduo de trilhar, quando se trata da vida de um jornal - e mais ainda, de um pequenino jornal, como o FACHO - alheio a interesses económicos ou pessoais, rigoroso observador da moral cristã, e movido exclusivamente pelo amor, progresso e bem estar dos povos para quem se criou e, devotadamente, tem procurado servir.

Ora a passagem de um aniversário trás sempre uma ideia de parabéns e felicitações; mas, quem as merece no caso do FACHO?
O Prior, cujo nome aparece à cabeça do jornal, como Director e Editor?
Sinceramente, e de mão na consciência, poderemos afirmar que o Prior entende que o FACHO não é obra sua apenas, mas sim obra de uma multidão de pessoas, de ambos os sexos e de todas as idades, das três freguesias, assinantes e subscritores, amigos e benfeitores, colaboradores e propagandistas, e simples leitores que, espalhados por toda a Terra, desde o Alasca à Patagónia, passando pelo Canadá, América, Venezuela, Brasil, Uruguai e Argentina, por terras da Europa e África, desde a Alemanha, França e Espanha, à União Sul Africana, Rodésias e Niassalândia, por todo o mundo português, do Minho ao Algarve, da Madeira, Açores, São Tomé, Guiné, Angola, Moçambique até Macau, e por tantas localizações por estas províncias e nações disseminados de que não podemos dar nota, não se esquecem do FACHO e, através dele, mantêm permanente conhecimento e vivo contacto, com as aldeias em que nasceram, com as pessoas que nelas vivem ou delas saíram para, noutros países, granjearem trabalho que lhes proporcione mais bem-estar e melhor passadio a suas famílias, e nele mensalmente afervoram as saudades do viver local, sabem dos melhoramentos feitos ou desejados, da gente que nasce, morre ou se casa, dos que fazem os seus exames ou terminam os seus cursos, etc. etc. etc.

Assim, pois, todos estaremos de parabéns, e como tal todos nos devemos considerar!
E se assim é, e assim deverá ser, de facto, todos os assinantes, benfeitores, amigos , subscritores, propagandistas ou simples leitores, naturais ou oriundos, simples admiradores ou amigos das terras das freguesias da Benfeita, Cerdeira e Teixeira, estão em festa e de parabéns com o FACHO.
PARABÉNS a todos, portanto!

***

Querendo expressar publicamente, e de modo muito grato ao seu coração, a alegria que sente com a entrada no quinto ano de publicação do FACHO, em tão boa hora fundado, e patentear a sua inapagável gratidão por todos quantos o ajudaram nesta difícil tarefa, possibilitando não apenas a vida do jornal, mas o êxito das suas diversas iniciativas, algumas das quais ficarão a marcar uma época na história do nosso amor regionalista, no progresso das nossas terras e da nossa devoção pelos nossos Santos, o Prior entende celebrar uma missa especial pedindo a Deus e a Nossa Senhora as suas bênçãos para quantos nesta missão, por qualquer forma, o ajudaram.

Essa Missa será celebrada às 10 horas do dia 2 de Abril, Domingo de Pascoela, no Santuário de Nª Senhora das Necessidades e o Prior fervorosamente rezará pela saúde e felicidade de todos os amigos e leitores do FACHO, qualquer que seja o ponto do Mundo em que se encontrem.

Mas para que se estabeleça uma perfeita comunhão de sentimentos e gratidão, entre todos nós, o Prior ousa pedir a todos os leitores do FACHO, para que nesse dia e àquela hora, onde quer que estejam, ergam uma prece ou um simples pensamento a Deus, em acção de Graças pela saúde e benefícios alcançados, em louvor dos Santos da sua devoção, e pedindo a bênção e patrocínio celeste para o novo ano que começa.

 


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