PARA  QUE  O  HOMEM  NÃO  ESQUEÇA

A guerra sem fronteiras...

A 1ª e a 2ª Guerra Mundial deixaram na memória da humanidade
acontecimentos sangrentos que jamais deverão ser esquecidos,
para que nada se volte a repetir.

O povo da Benfeita, como todos os portugueses da época, acompanhou com horror o desenrolar da segunda guerra mundial, principalmente aqueles que estavam em idade militar ou aqueles cujos familiares já tinham participado na primeira grande guerra (1914-1918), cujo saldo em perdas humanas se cifrou em mais de 9 milhões de vidas.

A participação portuguesa na primeira guerra mundial, ao lado das tropas aliadas, foi desastrosa. Em França, o Corpo Expedicionário Português foi quase totalmente dizimado e os sobreviventes foram utilizados como mão-de-obra para cavar trincheiras. Em África (Angola e Moçambique), os alemães nunca perderam qualquer combate, tendo o comandante das tropas invasoras apresentado a sua rendição, só após a capitulação nazi, na Europa.

Por tudo isto, esta guerra de má memória marcou severamente o povo português que, cansado de guerra, venerou a figura de Salazar por este ter conseguido manter uma posição de neutralidade no segundo conflito deflagrado em 1939.

Os benfeitenses não ficaram insensíveis aos movimentos de apoio à política de Salazar que se faziam sentir por todo o país e resolveram construir no adro da capela de Santa Rita, uma torre que ostentaria o seu nome, destinada a celebrar o tão desejado fim da guerra. Nela seria colocada uma cúpula em granito e um sino especial, em bronze, que tocaria pela primeira vez, quando cessassem as hostilidades na Europa, o que viria a acontecer em Maio de 1945.

Alfredo Nunes dos Santos Oliveira, com 50 anos de idade era, então, o presidente da Junta de Freguesia da Benfeita já há 12 anos e, como antigo combatente da G.I.A.P. em França, em 1916, conhecia bem o significado deste modesto monumento comemorativo, tendo-se integrado na sua construção e angariação de fundos, com todo o empenho e dedicação.

A torre, a cúpula, o catavento, o relógio e os sinos foram custeados por subscrição pública, onde se incluíram donativos de várias entidades particulares e câmaras municipais, como por exemplo: Aveiro, Figueira da Foz, Viana do Castelo, entre outras.

Assim, todos os anos, a Benfeita comemora esta efeméride, a 7 de Maio (data da rendição formal da Alemanha, na Europa, em 1945) fazendo soar, bem alto, o sino da Torre Salazar, ou Torre da Paz, como passou a ser conhecida, depois do 25 de Abril.

O relógio da Torre tem um dispositivo automático que lhe permite repicar festivamente o Sino da Paz, durante cerca de 2 horas, com 1620 badaladas, evocando os 54 meses que durou a Primeira Guerra Mundial (Junho/1914 - Novembro/1918), uma por cada dia de guerra, onde bravos benfeitenses lutaram em África e em França e onde milhares de portugueses perderam a vida, na data em que se comemora o fim da guerra na Europa, altura em que todos nós rogamos a Deus, nas nossas preces, para que os homens não se esqueçam dos horrores desta guerra e a paz se vá mantendo entre nós.

O mecanismo do relógio, que durante toda a sua existência nunca recebeu a visita de um técnico, nem sequer uma peça nova, foi "adoptado" por António Alberto Martins (Mina), carteiro e barbeiro de profissão que, durante 60 anos, o guardou e manteve, zelosamente, em perfeito estado de conservação e funcionamento, desde o primeiro dia, nunca descurando as duas vezes por semana que tinha de subir os difíceis degraus de madeira da Torre, para lhe dar corda, fazendo rodar uma grande manivela para subir os pesos megalíticos.

O Sino da Paz, colocado na ventana Norte da Torre da Paz, bem de frente para a povoação, pesa cerca de 80 quilos e foi mandado fazer, em 1945, em Almada, pelo Dr. Mário Mathias, conhecido advogado benfeitense, na fundição de Manuel Francisco Cousinha (de Sobral Magro, amigo da terra e também ele ex-combatente), data desde a qual, com a ajuda do "ti'Mina" cumpriu, pontualmente, o papel para que foi concebido: "comemorar a paz portuguesa e homenagear o Chefe do Govêrno e a sua clarividente e quasi milagrosa política internacional, que preservou a nossa pátria dos horrores da guerra."

Esta tradição comemorativa Benfeitense, única em Portugal, evoca o "Ano Áureo" de 1940 em que Portugal, mantido neutral e pacífico, era apresentado ao País e ao mundo, pela propaganda oficial de então, como "uma ilha de paz, no mundo em guerra", exemplo da clarividência do seu Chefe e das "superiores virtudes" do regime.

Veja também:
Torre da Paz

Vivaldo Quaresma